PHDA (Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção) em Adolescentes e Adultos
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é uma condição clínica do neurodesenvolvimento caracterizada por um padrão persistente de desatenção, impulsividade e/ou hiperatividade, que interfere de forma significativa com o bem-estar psicológico, o desempenho académico, profissional, social e familiar.
A PHDA foi, durante muitos anos, associada sobretudo à infância. No entanto, os sintomas podem persistir na adolescência e na idade adulta ou, nalguns casos, tornar-se mais evidentes nessa fase da vida, devido a alterações hormonais, stress ou ansiedade.
As manifestações tendem a modificar-se ao longo do tempo: a agitação motora, característica da infância, pode transformar-se, na idade adulta, numa inquietação interna, impulsividade nas decisões ou dificuldade em manter o foco, esquecimentos constantes, desorganização e instabilidade emocional.
Como é que se manifesta a PHDA nos adolescentes e nos adultos?
Pode revelar-se através de diferentes combinações de sintomas.
Os mais comuns são:
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Dificuldade em manter a atenção em tarefas prolongadas ou pouco estimulantes;
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Esquecimento frequente de compromissos ou prazos;
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Dificuldade em organizar o tempo e as responsabilidades;
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Procrastinação e tendência para iniciar várias tarefas sem as concluir;
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Impulsividade nas decisões ou nas relações pessoais;
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Sensação de “mente acelerada” ou de “não conseguir parar”;
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Mudanças de humor, baixa tolerância à frustração e impaciência;
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Sentimentos de desmotivação, frustração ou incapacidade para corresponder às próprias expectativas;
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Impacto no desempenho académico, profissional, na autoestima e nas relações interpessoais.
Estes sinais variam de pessoa para pessoa e podem intensificar-se em períodos de maior exigência emocional, sobrecarga laboral, stress ou privação de sono.
PHDA: prevalência e causas
De acordo com a Organização Mundial de Saúde estima-se que entre 2,5% e 5% da população adulta apresente PHDA.
Em Portugal, a prevalência ronda os 3% dos adultos, e cerca de metade dos diagnósticos feitos na infância mantêm-se na idade adulta.
A origem da PHDA é multifatorial, envolvendo fatores genéticos, neurobiológicos e ambientais.
Estudos científicos apontam para alterações em circuitos cerebrais ligados à atenção, memória de trabalho, regulação emocional e planeamento.
Estas diferenças não traduzem uma falha pessoal, mas sim uma forma particular de funcionamento neurológico que pode ser compreendida, gerida e adaptada.
PHDA e comorbilidades
A PHDA é frequentemente acompanhada de outras condições psicológicas ou emocionais, designadas comorbilidades, que podem agravar as dificuldades diárias.
As comorbilidades mais frequentes são:
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Perturbação de ansiedade;
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Perturbações depressivas;
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Perturbação bipolar;
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Perturbações da personalidade;
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Perturbação desafiante de oposição (quando o início é precoce);
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Perturbação do Espectro do Auutismo;
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Perturbações por uso de substâncias (álcool, nicotina, cannabis, entre outras).
O acompanhamento psicológico especializado permite distinguir sintomas sobrepostos e elaborar um plano de intervenção ajustado a cada pessoa.
Como é que a PHDA pode afetar o dia a dia
As consequências da PHDA vão além da dificuldade de concentração.
Em adolescentes e adultos, pode refletir-se em:
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Desempenho irregular no trabalho ou nos estudos;
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Dificuldade em cumprir prazos ou manter rotinas;
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Relações interpessoais marcadas por impulsividade ou impaciência;
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Sentimento de desorganização constante, mesmo em contextos estruturados;
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Sensação de “não estar a dar o seu melhor”, apesar do esforço;
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Maior vulnerabilidade a estados de ansiedade, exaustão e baixa autoestima.
Estes desafios não significam falta de capacidade.
Muitas pessoas com PHDA são criativas, enérgicas, curiosas e altamente intuitivas. O segredo está em compreender o próprio funcionamento e aprender a canalizar a energia de forma construtiva.
Quando procurar avaliação e apoio psicológico
Procurar avaliação psicológica não significa rotular-se, mas sim compreender melhor o próprio funcionamento cognitivo e emocional.
Se reconhece em si alguns destes padrões, o apoio psicológico pode ajudar a:
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Explorar se os sintomas correspondem a PHDA ou a outro quadro clínico;
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Identificar fatores que agravam a desatenção, impulsividade ou desmotivação;
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Reforçar estratégias de planeamento, foco e autorregulação emocional;
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Trabalhar crenças de incapacidade e fortalecer a autoestima;
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Melhorar o equilíbrio entre exigências externas e necessidades internas.
Intervenção e acompanhamento
A intervenção da PHDA é mais eficaz quando envolve uma abordagem integrativa:
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Consultas de psicologia centradas na gestão do tempo, estratégias de planeamento e autorregulação;
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Psicoeducação, para compreender o funcionamento da PHDA e reduzir o autojulgamento;
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Ajustes académicos ou laborais, que facilitem a organização e o desempenho;
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Apoio médico, quando há indicação para tratamento farmacológico.
Ou seja, o acompanhamento psicológico especializado contribui para desenvolver competências práticas, promover o bem-estar emocional e melhorar a qualidade de vida global.
Nota final:
Com apoio adequado, autoconhecimento e estratégias consistentes, é possível transformar a impulsividade em criatividade, o caos em estrutura e a dispersão em foco.




